Hoje estou confuso, entediado,
Minha cabeça dói e nem
fumei um cigarro...
Acho que sequei quatro
litros de Vodca,
Mas a única dor que
incomoda machuca o peito.
Pego uma ponta de
lápis na gaveta empoeirada de uma cômoda,
Tão abandonada quanto
eu;
Avisto um pedaço de
papel no chão com a marca do meu sapato 44,
Então fecho meus olhos
e instantaneamente os seus
Castanhos e delineados
me aparecem no seu rosto arredondado,
Fico ali parado
sentado em minha cama, admirando sua imagem em
minha mente tão límpida
como esse amor que me atormenta,
Então abro os olhos já
encharcados,
E num vulto apanho o
papel ao lado do meu pé,
N um desespero
irracional, Começo a rabisca-lo,
O pulso acelera e já consigo ouvir o meu
próprio coração,
Num súbito levo a mão
em um copo de vodca,
E quando o levanto,
percebo que estrou tremendo,
Deixo-o cair, e o som
dos vidros estraçalhando,
aumenta meu tormento,
Olho para o papel e volto a rabiscar,
Seu rosto vai tomando
forma, uma lágrima cai sobre a folha,
Ainda não parei de
chorar...
Olho para o lado e em
cima da minha cama desforrada
Vejo no súbito delírio
dos meus pensamentos, você a me chamar...
Vou perdendo o foco, o
papel vai escurecendo,
Não consigo mais te
enxergar,
Você vai sumindo, vai fugindo,
se desfalecendo, resisto a te deixar,
mas já não posso...
Meu corpo se desloca no espaço com uma pedra
jogada ao vento,
vou caindo bem devagar
até encontrar
O escuro absoluto do
silêncio...
Glauber Rocha