sábado, 9 de junho de 2012
















      Rabiscos de Sentimentos

Hoje estou confuso, entediado,
Minha cabeça dói e nem fumei um cigarro...
Acho que sequei quatro litros de Vodca,
Mas a única dor que incomoda machuca o peito.
Pego uma ponta de lápis na gaveta empoeirada de uma cômoda,
Tão abandonada quanto eu;
Avisto um pedaço de papel no chão com a marca do meu sapato 44,
Então fecho meus olhos e instantaneamente os seus
Castanhos e delineados me aparecem no seu rosto arredondado,
Fico ali parado sentado em minha cama, admirando sua imagem em
minha mente tão límpida como esse amor que me atormenta,
Então abro os olhos já encharcados,
E num vulto apanho o papel ao lado do meu pé,
N um desespero irracional, Começo a rabisca-lo,
O pulso acelera e já consigo ouvir o meu próprio coração,
Num súbito levo a mão em um copo de vodca,
E quando o levanto, percebo que estrou tremendo,
Deixo-o cair, e o som dos vidros estraçalhando,
aumenta meu tormento,
Olho para o papel e volto a rabiscar,
Seu rosto vai tomando forma, uma lágrima cai sobre a folha,
Ainda não parei de chorar...
Olho para o lado e em cima da minha cama desforrada
Vejo no súbito delírio dos meus pensamentos, você a me chamar...
Vou perdendo o foco, o papel vai escurecendo,
Não consigo mais te enxergar,
Você vai sumindo, vai fugindo, se desfalecendo, resisto a te deixar,
mas já não posso...
Meu corpo se desloca no espaço com uma pedra jogada ao vento,
vou caindo bem devagar até encontrar
O escuro absoluto do silêncio...

Glauber Rocha





sábado, 12 de maio de 2012





No cais te espero chegar

O cais me parece estranho...
Está muito escuro agora,
talvez até mesmo espere você chegar
em um navio de algum lugar, mas não sei de onde...
E no horizonte dessa saudade só avisto
a tenebrosa sombra da escuridão,
onde você está? Em que porto desembarcou?                                                                  
Vem aqui nesta noite gelada, neste cais sombrio,
esquecera de mim? Estou com frio...
Estou com medo, acho que me perdi.
Como um navio a flutuar pelas águas do mar
sem um leme nem uma luz a o guiar,
assim estou me perdendo por entre as águas
Que me puxam para dentro de si
como se quisesse me arrastar                                  
para onde você está...

Glauber Rocha 

quinta-feira, 3 de maio de 2012
















Acho que ainda te amo

Não queria admitir, mas ainda te amo,
As ondas do amor, ainda batem com a mesma força
Nas paredes do meu coração.
E o pior que de tanta força agora me ferem,
Abrem um buraco sangrento e profundamente vazio,
Onde as simples e malditas lembranças
Me fazem querer a todo instante de volta seu perfume.
Mas não posso na virtude de um desejo
Dar-me ao sofrimento de querer-te de novo,
Todo o amor um dia sublinhado
Foi para sempre no pendão de um orgulho esquecido
Mas sei que em mim enquanto houver
Um resquício de esperança
Estarei novamente sujeito
As desilusões do amor...

Glauber Rocha

sábado, 7 de abril de 2012


Desespero

Vejo o sol desse dia imundo
E não sei dizer em que ponto te perdi
A inerte lembrança do seu corpo
Me faz perder o resquício de sanidade
Que ainda habitava em mim.
Procuro nos vácuos do que sobrou
Da minha desgraçada vida
Um motivo, para continuar adiante,
Mas nos delírios de um passado recente
Meu indigente coração se devaneia
E se perde, e num último suspiro de amor,
Desesperado ainda clama por ti.

Glauber Rocha

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Á Beira da Escuridão


“Minha vida mudou,
os meus dias feneceram,
Tudo que me pertencia me deixou para trás;
Só me restaram lágrimas encharcadas de dor.
Lembranças me maltratam, sinto medo da escuridão;
Do negrume da noite;
Onde algumas estrelas me acalantam;
Pois o sol dos meus dias já não me ilumina mais.
Estou á beira do abismo,
No precipício do meu próprio medo.
A insana noite vem coberta de luto;
Trazendo em seu obscuro semblante,
Um cobertor abarrotado de saudades,
Que aos poucos vai vestindo a sua volta,
E sem querer, sem saber, e sem resistir,
Já está envolvido...”

Glauber Rocha